Pedro Nunes nasceu em Évora no ano de 1586. Era filho de Isabel Fernandes e do vinhateiro Francisco Fernandes Pitães, moradores na rua dos Infantes desta cidade.
Foi discípulo do pintor Manuel Fernandes, com quem seu pai celebrou contrato a 16 de julho de 1602 para, durante cinco anos, Pedro Nunes aprender o ofício de pintor. Em 1618 casou no convento de Santa Clara com Mariana Varela, filha do seu mestre e de Sebastiana Varela, e desta união nasceram 8 filhos, entre os quais, os pintores Francisco Nunes Varela, Maria Josefa dos Anjos, e Lourenço Nunes Varela.
Segundo uma testemunha no processo de “limpeza de sangue” de Francisco Nunes Varela, seu filho, Pedro Nunes terá ido para Roma com a idade de vinte anos. Registos documentais confirmam a presença do artista nesta cidade e a sua integração no seio da Academia de S. Lucas (a Academia dos pintores). Exerceu também o seu ofício na Catalunha, pintando obras para a Capela Grande da Diputació, local por onde passou no regresso de Roma para Portugal em 1615: '(..) Son deguses 100 lliures a vos Pere Nuneys, pintor, a bom compte de alguns quadros haveu de pintar en la capella gran de present casa de la Deputació y per los colores haveu de posar en aquels, la qual pintura há deser bona y rebedora com de bom official se pertany', conforme apuraram J. Puig Cadafalch e J. Miret Sanz.
Encontramo-lo como testemunha em diversos batismos e casamentos na cidade de Évora (em Santo Antão) logo em inícios do século XVII; esteve ainda preso durante 4 anos por ter ferido a mulher de um almocreve, sendo libertado a 14 de novembro de 1629.
Em 1618, colabora com o sogro no acabamento das telas do retábulo da Capela do Nome de Jesus, encomendadas pela Confraria dos Sirgueiros, na igreja de Santo Antão. Em 1619, em tombo manuscrito procedente do cartório conventual e guardado em coleção particular, intitulado Livro da Comunidade deste Convento do Calvário, coligido em 1709, refere a visita do monarca Filipe II de Portugal e do seu séquito, em 17 de Maio de 1619, ao Convento do Calvário, dizendo que foram ao «refeitório, onde el rei folgou muito de ver os retabolos». Por sua vez, na Relação dos Paineis, que há nos conventos de Religiosas da Cidade d'Evora, redigido em 1845 por Cunha Rivara e João Rafael de Lemos, os três painéis de Pedro Nunes são referidos entre as poucas peças de qualidade existentes no convento de Santa Helena do Monte Calvário. Em 1620, por encomenda do arcebispo de Évora D. José de Melo, inicia a empreitada do retábulo-mor do convento de Nossa Senhora dos Remédios (carmelitas descalços).
Precisamente neste ano de 1629, em contrato realizado nas notas de Gil Solteiro, o Arcebispo de Évora D. José de Melo, através dos seus representantes Licenciado Luís de Azambuja de Moura e Padre Luís Pires, designou Manuel Fernandes, Diogo Vogado, António Vogado e Pedro Nunes, «pintores e douradores desta cidade», para pintarem, dourarem e estofarem o grandioso Sepulcro de marcenaria lavrada que existia montado na capela-mor da Sé, pelo preço excepcional de 600.000 rs. Em 18 de setembro de 1626 (o que parece coincidir com o período em que esteve detido) comprometeu-se, com o seu colega de ofício António Vogado perante Soror Serafina do Salvador, abadessa do Convento do Salvador de Évora, e o Padre António Gomes, a «haverem de pintar e dourar o Retavollo da Igreja do Salvador todo muito bem dourado e pintado e estofado» pelo preço de 130.000 réis. Uma das filhas do pintor, em 1626, batizada na Igreja de Santo Antão teve como padrinhos o futuro bispo ( e embaixador em Roma) D. Miguel de Portugal e Soror Maria da Madre de Deus, freira do Mosteiro do Salvador. Em 1630 pintou uma tela destinada ao retábulo da Ermida de S. Joãozinho por encomenda da irmandade de S. João Baptista, sita no convento de S. Francisco de Évora.
Foi considerado por Vítor Serrão um notável pintor maneirista deixando nesta cidade várias obras de grande valor artístico das quais se destaca a pintura do retábulo da capela do Esporão da Sé de Évora em 1620, por encomenda de D. Manuel de Vasconcelos, membro do Conselho de Estado de Filipe III, regedor das justiças e sexto morgado do Esporão. A sete de agosto de 1637 a Santa Casa da Misericórdia regista o seu falecimento, contando o pintor 51 anos.
Maneirismo; Academia de S. Lucas; Retábulo da Capela do Esporão; Roma; Catalunha; Rua dos Infantes.
No Tratado Antiguidade da Arte da Pintura o pintor Félix da Costa Meesen cita pedro Nunes: “(...)Foi de grande maneira, aprendeo em Roma, fes cousas excellentes, e com bom estillo; em sua patria Evora há as suas mayores obras, e em esta cidade (Lisboa) huns doze Apostolos de meyos corpos (....)”, cit. Por G. Kubler, p. 268. Quando é feita a relação de pinturas existentes nos conventos de religiosas da cidade de Évora, Cunha Rivara e Baptista de Lemos sublinham não só a obra do pintor na capela do Esporão, também apreciada pelo P. Manuel Fialho, como os sete painéis sobre a vida de Santa Catarina que pintara para o convento de Santa Catarina de Sena, onde ingressaria uma das suas filhas, também pintora, Maria Josefa dos Anjos.
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ANTT, Santo Ofício de Évora- Habilitações para Familiares, processo nº297 Maço 8. Documento inédito Revelado pelo Professor Vítor Serrão. (6-VII-1655)