José de Escovar

Nota Biográfica

Pintor de origem flamenga ou castelhana, estabeleceu a sua oficina em Évora, na Rua do Raimundo em colaboração com o seu filho, Luís de Escovar. Casou em primeiras núpcias com Júlia da Rocha e em segundas núpcias com Joana de Araújo; Joana faleceu em 1605 e no registo do seu enterro José de Escovar surge referido como Irmão da Misericórdia de Évora; esta data não é coincidente, pois há fontes que indicam o enterro de Joana apenas em 1612 e a admissão de José de Escovar na Irmandade da Misericórdia em 1612. Há ainda o registo de Isabel Vieira como sua mulher em 1619, e o do enterro de um filho do pintor em 1622. Em 1608, aforou umas casas ao Cabido, sitas na Travessa do Golete, e outras na travessa do Bácoro, que foram depois ocupadas pelo filho. O pintor surge ainda em muitos contratos de compra e venda de bens imóveis urbanos e peri-urbanos, especialmente vinhas, como comprador (nomeando em 1597 solicitador para tratar dos seus bens) ou como testemunha. Como exemplo, temos que em 1605, assina como testemunha num contrato de venda de uma vinha realizado pelas religiosas do mosteiro cisterciense de S. Bento de Cástris. No mesmo ano envolve-se em litígio com o seu filho, Luís de Escovar.
Em 1585, mestre Escovar recebeu na sua oficina o aprendiz Pedro Álvares, de 21 anos, com o qual se comprometeu a ensinar em tudo o respeitante ao seu ofício durante o prazo de cinco anos. Em 1590 recebe, um novo aprendiz, agora por seis anos; trata-se de Manuel Luís, de 17 ou 18 anos, filho de um tecelão da vila de Estremoz.
José de Escovar foi preso no Limoeiro de Lisboa pelas circunstâncias da morte violenta de sua mulher Júlia da Rocha, sendo condenado a três anos de degredo em África; foi libertado em dezembro de 1589, após Manuel de Araújo lhe ter pago a fiança. O pintor viu o degredo transformado em serviços do seu mester. Em 1601 foi novamente preso na cadeia municipal em Évora, sendo que num instrumento de fiança Joana de Araújo, sua mulher, consente em vender de uma vinha pertencente ao património do casal, a fim de permitir a libertação do marido; Escovar fora preso desta vez pelo facto de não ter pago ao cirieiro Manuel Ferreira um dívida de 8.730 réis.
Em 1614 é dado como “estante em Alcácer do Sal”, sendo que dois anos antes o pintor e sua mulher Joana de Araújo tinham recebido do amigo Francisco Carvalho, índio tosador de tijolo, uma modesta doação, devido a muitos serviços e provas de apreço que devia ao casal.
Foi um pintor bastante produtivo, a quem se atribuem um número considerável de obras de pintura mural como na Matriz de Vila Ruiva e na Ermida de Nossa Senhora da Represa. Em 1590 Escovar pinta a fresco a capela-mor e o cruzeiro da ermida de S. Sebastião, em Évora, obra que não sobreviveu até aos nossos dias, em virtude dos ataques à cidade em 1663 pelas tropas de D. João de Áustria.
Escovar trabalhou no douramento, estofamento e pintura do retábulo-mor da Misericórdia de Mora, em que “(...) ho painel do meio tera há visitasam da Santa Izabel e no fronte espicio de sima tera pyntado nosa Sñra da piadade com ho seu fo morto nos brasos e tera Sam Joam e há Madalena cada hu de sua parte (...)”, num contrato decidido desde 1588. Em 1603, executou o retábulo da Confraria das Almas da igreja matriz de Vila Nova da Baronia (Alvito), onde se encarrega igualmente do estofado e douramento da obra e ainda da pintura.
Em março de 1600, José de Escovar assina contrato com o bispo D. António Matos de Noronha para a pintura a fresco de «todos os painéis do alto da capela-mor desta santa Sé e frizos dentre os ditos painéis». Poucos meses mais tarde estabelece novo contrato com o bispo, desta vez em parceria com o dourador João de Moura, para a obra de douramento da capela-mor da Sé. Em 1605/06, estava ocupado com as decorações fresquistas da sala do Despacho da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Novo. Em 1606 o pintor deslocou-se a Elvas para revestir de «fresco» a capela-mor da Igreja da Misericórdia, obra que desapareceu.
Em 1610, assina um documento com o Balio Rui de Brito onde toma uma obra num edifício religioso e noutro civil. Em ambos os casos, o pintor deveria executar partes da pintura a fresco e outras a óleo, No mesmo documento, o fresco está reservado para a pintura dos painéis integrados com as “ystorias” da Sagrada Escritura, à escolha do encomendante, bem como os anjos da abóbada de cruzaria e a arcaria da mesma capela-mor, excetuando-se o arco triunfal e as chaves da abóbada que receberiam douramentos. A fresco deveria ser também pintada a capela privada.
Em 1612, José de escovar pinta a fresco o «retábulo fingido» da ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, no termo de Évora, a mando da Câmara Municipal.

Palavras-chave:

Pintura a óleo; Fresco; Douramento; Estofamento; Rua do Raimundo; Matriz de Vila Ruiva; Ermida de S. Sebastião; Catedral de Évora; Vila Nova da Baronia (Alvito); Igreja da Misericórdia de Mora, Matriz de Viana do Alentejo; Misericórdia de Montemor-o-Novo; Igreja da Misericórdia de Elvas; Ermida de N.ª Sr.ª de Guadalupe.

Estudos

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Fontes

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