O interesse dos investigadores pela pintura mural em Portugal é relativamente recente, ficando-se a dever a Virgílio Correia, em 1921, a primeira tentativa de construção de um discurso científico em torno deste tema, submetido a critérios metodológicos que o próprio encontrou para a sua análise. Elegendo como período áureo da pintura mural portuguesa os séculos XV e XVI, este historiador analisou diversos núcleos do ponto de vista estilístico, propondo autorias que procurou sustentar através da análise de fontes documentais. Apesar de todas as dificuldades existentes à data para a realização de um trabalho analítico rigoroso, Vergílio Correia foi o primeiro a sugerir que os pintores de cavalete pudessem ter estado envolvidos, também, nos conjuntos murais. Ao mesmo tempo, todas as comparações estilísticas realizadas pelo autor esbarraram com o paradigma da pintura mural italiana, do “buon fresco” e da sua excelência, o que acabaria por criar uma imagem deficitária da realidade pictórica portuguesa partilhada, aliás, por outros autores, pelo menos até à primeira metade do século XX.
Entre 1930 e 1940, o Estado Português levou a cabo uma intensa campanha de intervenções de restauro em conjuntos murais da região Norte do país, onde tinham sido identificados os núcleos mais antigos. As intervenções seguiram o critério da 'unidade de estilo' e levaram a alterações formais e materiais de muitas pinturas. Pelo contrário, a Sul do rio Tejo, a ideologia do branco das caiações no património edificado poupou um acervo significativo de exemplares que chegaram inalterados até aos nossos dias.
No Alentejo, o (re)descobrimento da pintura mural deve-se a Túlio Espanca que, entre 1947 e 1978, realizou um inventário das pinturas presentes, em especial em torno da região de Évora, propondo atribuições a muitos artistas cujas biografias foi construindo a partir de fontes documentais consultadas ao longo da sua investigação.
A historiografia da pintura mural teria, no entanto, que aguardar pela década de 1980 pois, só a partir de então, os historiadores da arte intensificaram os estudos dedicados ao tema, concentrando esforços no período de transição do Tardo-gótico para o início do Renascimento, em especial, no Norte do país. Destaca-se, logo em 1982, o inventário realizado por Teresa Cabrita Fernandes, como obra pioneira que abre o caminho uma nova corrente historiográfica. Mais tarde, seriam os estudos de Catarina Valença a desenvolver o tema da pintura mural, naquilo que eram as suas principais características e especificidades, em primeiro lugar para o concelho do Alvito, depois para localidades do Distrito de Castelo Branco.
O tema foi posteriormente analisado de um ponto de vista mais abrangente por Luís Urbano Afonso e Paula Bessa. Centrando o seu objecto de análise no período abarcado pelos séculos XV e XVI, Luís Afonso conseguiu definir as principais características, modelos e fontes de inspiração da pintura mural ao nível nacional, naquilo que se consubstanciou, ao presente, como um dos mais sólidos contributos para a História da Arte tardo-medieva,l. A abordagem de Paula Bessa foi mais regionalista, analisando de forma sistemática cada núcleo de pintura tardo-gótica do Norte do país.
Mais recentemente, Joaquim Inácio Caetano realizou um levantamento exaustivo dos modelos utilizados em estampilha, em motivos decorativos das composições dos séculos XV e XVI. Este trabalho tornou, assim, mais consistentes os conhecimentos sobre a pintura mural do Norte do país. Em simultâneo o mesmo autor dedicou-se ao tema dos fingimentos de silharia aparelhada e técnicas de tratamento das juntas, área de grande fortuna artística ao nível nacional, embora nem sempre considerada pela historiografia da Arte portuguesa.
Todos estes autores vieram contribuir para o conhecimento sobre a pintura mural das regiões norte e centro do país, definindo características, oficinas e identificando modelos (desde os hispano-flamengos até à linguagem renascentista).
No que diz respeito, em concreto, ao Alentejo, verificamos que existem dois pólos principais, em torno dos quais os investigadores da pintura mural portuguesa concentraram a sua atenção. Em primeiro lugar, e como não poderia deixar de ser, a cidade de Évora e região envolvente, pela importância política e cultural que representou durante os períodos em que a corte ali esteve instalada, sobretudo durante os reinados de D. Manuel (1495-1521) e, depois, de D. João III (1521-1557) e por todas as repercussões artísticas que daí advieram para os concelhos mais próximos.
Joaquim Oliveira Caetano e José Alberto Seabra Carvalho estudaram alguns dos núcleos eborenses quinhentistas de maior riqueza artística e iconográfica. Disso são exemplo o Palácio dos Condes de Basto e as famosas Casas Pintadas de Vasco da Gama, de invulgar iconografia espalhada através dos fabulários. Também merece registo o levantamento levado a cabo por Margarida Donas Botto, uma vez mais em torno do concelho de Évora, focando aspectos relacionados com a própria conservação dos núcleos ainda remanescentes, todos eles pertencentes ao período moderno. Partilhando o mesmo tipo de preocupações no que diz respeito ao estudo e análise das causas de degradação da pintura mural, encontra-se o trabalho de Celina Simas Oliveira, a propósito de um objecto de estudo muito concreto - a sacristia do colégio do Espírito Santo de Évora. Em 2014, esta pintura foi revisitada pela equipa do PRIM’ART na tarefa 2, trabalho que resultou num levantamento exaustivo da técnica pictórica e de diagnóstico. A complementaridade entre o estudo histórico e o exame de análise e diagnóstico tinha já sido ensaiada num outro caso de estudo, não menos conhecido, embora mais antigo, do fresco do antigo Tribunal de Monsaraz, intervencionado pelas técnicas de conservação e restauro Teresa Sarsfield Cabral e por Irene Frazão (1999).
Progressivamente construíram-se biografias dos pintores, delineando esferas de actuação e eventuais colaboradores. Neste âmbito, têm sido também vitais os trabalhos de Vitor Serrão, pioneiros para a reabilitação do fresco renascentista e maneirista em Portugal. Um dos estudos mais relevantes deste autor é dedicado aos frescos da ermida de Santo Aleixo, em Montemor-o-Novo, verdadeira “obra-prima do Renascimento português”, que continua a levantar interrogações ao nível da sua autoria. Para o concelho de Montemor-o-Novo e, sobretudo, para o seu património mural, refira-se ainda o estudo de inventário realizado por Nélson Dias.
A região em torno de Vila Viçosa foi também alvo de vários estudos de Vitor Serrão, pelo seu papel enquanto pólo dinamizador das actividades artísticas nas localidades vizinhas. Vila Viçosa, verdadeira 'corte de aldeia', cuja revitalização cultural e artística em tudo se ficou a dever aos Braganças, oferece um capítulo brilhante da história do fresco nacional, naquilo que diz respeito ao período do Renascimento e do Maneirismo, naquilo que teve de mais complexo, intelectualizado e humanista. No pólo oposto encontram-se os núcleos pictóricos atribuídos à oficina de José de Escovar, figura paradigmática da pintura fresquista de finais do século XVI e inícios do XVII, muito reabilitada actualmente graças aos estudos que lhe foram dedicados pelo mesmo autor.
Dentro de uma perspectiva mais regionalista e já para a segunda metade do século XVII e primeira do XVIII foi realizada, também, uma análise dos concelhos de Estremoz, Borba, Vila Viçosa e Alandroal, núcleo designado como a 'Região do Mármore'. As pinturas deste período não tinham, até então, sido alvo de nenhum estudo histórico-artístico mais abrangente, pelo que este ensaio veio trazer novidades do ponto de vista documental e, também, iconográfico, propondo novas leituras para os conjuntos analisados.
O segundo pólo onde se concentraram os estudos de diversos investigadores foi a região a Sul de Évora, que pertence já maioritariamente ao Distrito de Beja. Aqui cumpre recordar, uma vez mais, o trabalho desenvolvido por Catarina Valença no estudo e, sobretudo, na divulgação do fresco alentejano dando-o a conhecer a diferentes públicos, no sentido de contribuir para a sua reabilitação, o que, em alguns casos, resultou em colaborações profícuas de conservação e restauro.
Assim, paulatinamente, a historiografia da pintura mural foi sendo construída, sendo inegável o maior interesse despertado por parte dos investigadores para o período histórico que abrange o final do Gótico e o arranque do Renascimento, talvez pela raridade e, até mesmo, pela qualidade de muitos dos núcleos pictóricos dessa fase. Por outro lado, a correcta definição daquilo que foi, na realidade, o princípio da nossa pintura mural veio derrubar ideias já há muito questionáveis, nomeadamente a crença no seu 'declínio' logo a partir da segunda metade do século XVI. Tal como bem sublinhou Luís Afonso, esta teoria poderia ter estado relacionada com '[…] a ausência de um 'corpus' credível de pintura de cavalete tardo-medieval. Por isso, a pintura mural mais estudada foi, precisamente, a mais antiga, o que equivale a dizer, no nosso caso, à pintura produzida em Portugal durante o reinado de D. Manuel e os inícios do reinado de D. João III […]'.
Em simultâneo, a pintura mural tem sido alvo de estudos de carácter científico que realizaram uma abordagem do tema partindo dos seus materiais constituintes e tecnologias empregues, trabalhos esses que são concomitantes à perspectiva mais histórica do tema. Dentro deste ponto de vista destacamos as dissertações de Milene Gil Casal e de Joaquim Inácio Caetano como dois dos mais recentes contributos para esta questão. A dissertação de Milene Gil procurou abordar todo o processo de caiações a cor nas fachadas do Alentejo, recorrendo a diferentes métodos de exame e análise (espectrometria de fluorescência de raios-X, análise granulométrica dos pigmentos, etc.). A investigadora realizou um estudo aprofundado sobre a materialidade da pintura mural alentejana dando, assim, continuidade a trabalhos iniciados por outros autores, como José Aguiar.
Ainda na área da pintura mural e dos revestimentos arquitectónicos há que destacar a dissertação de Doutoramento de Joaquim Inácio Caetano que realizou um considerável levantamento de motivos de estampilha utilizados, também, na pintura de cavalete, definindo, deste modo, métodos de produção oficinal durante os séculos XV e XVI. O autor também abordou o tema dos fingimentos de silharias e de tratamentos das juntas dos edifícios dentro das suas componentes decorativa e de protecção dos próprios aparelhos murários. Em Maio de 2013, Patrícia Monteiro apresentou a sua dissertação a pintura mural na região Norte do Alentejo procurando integrar também esta zona no Estado da Questão desta temática, chamando a atenção para um património praticamente desconhecido e que se tem vindo a perder rapidamente.